domingo, 27 de novembro de 2011

Brick by brick, BRIC bye BRIC

A taxa crescente na economia dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e Coreia) tem sido motivo de orgulho, e a taxa decrescente na economia dos países ricos tem sido motivo de tormento. Isso em linhas gerais, pois economistas como Maílson da Nóbrega andam torcendo o nariz (a maioria não tem mais cabelos para arrancar) em relação à volta da inflação no Brasil. O presidente do Banco Central diz que a inflação acima da meta fixada para o ano de 2011 já era esperada e que ela será alcançada em 2012.
Tombini já trabalhou no FMI, tem uma grande experiência em se tratando de economia, foi indicado pela presidente Dilma de acordo com a meritocracia, o que é de se orgulhar levando em conta as tradições políticas brasileiras, mas o que mais chama a atenção na declaração acima é a retórica.
Ver o ministro do trabalho Carlos Lupi esbravejando e mentindo descaradamente quando pergunta "como é mesmo o nome dele?" não causa nenhuma confusão sobre o fato de Lupi ser péssimo ator e político brasileiro, basta imaginar no absurdo que seria alguém se perguntando "qual é mesmo a cor do café preto?", mas é preciso ser um pouco mais atento ao se deparar com frases como a de Tombini sobre a a meta da inflação de 2011. Vejamos: se a meta do índice inflacionário para esse ano era de 4.5%, e se era sabido que esse número seria ultrapassado, então para que estabelecer um número menor do que se espera? É como dizer: "vou parar de fumar ano que vem", e no ano que vem dizer: "já era esperado que eu não cumpriria a promessa".
Essa velha retórica antiga já é velha e antiga, por isso não costuma pegar desprevenido quem as ouve com atenção. A novidade que tem animado milhões de pessoas com renda acima de 70 reais por mês - e por isso acima da linha da miséria - são os números. Quando Sarney era presidente, dizia-se que a inflação ia ser controlada, e passava de 30% ao mês. Hoje se diz que ela vai ficar em 4.5% ao ano, e quase chega aos 7%. Os números sobre os BRICs ensejam esperança; os sobre as potências desenvolvidas, revolta (para eles, não para nós). Acima dos países pobres, dos ricos e dos emergentes está um instrumento que deflagra desigualdades em massa em qualquer lugar: a crise financeira mundial que tem em seu núcleo as instituições financeiras privadas. Portanto, os números sempre aumentam e diminuem. Talvez Maílson da Nóbrega tenha razão, talvez não.

domingo, 20 de novembro de 2011

Nem foi preso, Nem é criminoso

Ocupação da Rocinha. Prisão do traficante "Nem". Essas duas notícias fizeram muitos se sentirem orgulhosos ao lê-las ou ouvi-las durante a semana. Mas apesar de não ter uma ótima memória, recordo-me de há cerca de uns 7 meses ter assistido a incessantes noticiários sobre ocupação das favelas no Rio. Não esqueço também os elogios que essas operações de pacificação dos morros receberam de quem as acompanhou, monitorou, arquitetou e até de quem mal sabia o que estava acontecendo e eventualmente também demonstrou sua opinião positiva.
Ninguém negou que foi uma atuação válida e produtiva contra o crime organizado nas favelas do Rio. Ninguém, a não ser os "T.H.S" - Traficantes, homicidas e simpatizantes. Não sou T.H.S, tampouco vejo motivos para criticar uma ação pacificadora em regiões já caracterizadas tradicionalmente pela violência. Mas o Brasil é um país tragicamente cômico, aqui não se diz que não se deve procurar pelo em ovo, mas sim que os ovos não existem, ou então, no máximo, que isso faz parte da cultura brasileira.
A Rocinha finalmente foi ocupada e o traficante "Nem" foi preso. Acho isso positivo, mas inevitavelmente levanto algumas questões: 1- Como puderam elogiar tanto as ocupações das favelas do Rio no mês de março e esquecer de uma com 200 mil habitantes? 2- Nessas operações, dezenas de armas foram apreendidas pela polícia e pelo exército, mas TODO esse armamento não foi conseguido pelos traficantes diretamente através da própria polícia e do próprio exército? 3- O traficante "Nem" era o ditador da Rocinha, mas por que então - excetuando-se os que viviam sobe seu regime ditatorial - o resto da população brasileira mal sabia de sua existência?
Provavelmente mais ocupações acontecerão. E sem deixar no esquecimento a metáfora do pelo em ovo, acredito pertinente aqui apontar mais uma: a de espalhar a doença para depois vender a cura. Acho que acompanhar os noticiários tem me feito rejuvenescer, ou então chegar à conclusão de que as crianças entendem mais de política do que os adultos. Afinal, a seguinte questão não seria digna de uma criança? "Por que tanto empenho em combater o crime apenas, não seria bom também algum esforço para preveni-lo?".

domingo, 13 de novembro de 2011

Somos cães esperando o dono

Há 4.5 bilhões de anos não existia planeta terra. Há centenas de milhares de anos não existia a raça humana. Quantos milhares de anos? Não polemizemos a questão, a intenção não é essa. Chutemos por baixo então, dizendo que há cerca de 150 mil anos não existia a raça humana.
Das cavernas à era espacial houve um imenso progresso, e nos últimos 100 anos a humanidade progrediu mais do que nos últimos 1000 anos. Mas progrediu em que? Tecnologia? Sim, tecnologicamente houve um progresso inegável entre a invenção da geladeira e o armazenamento de dados nas nuvens. A medicina também deu um grande salto, assim como outras áreas acadêmicas, como a psicologia, que há pouco mais de um século nem existia e era estudada junto com a filosofia. Mas o cérebro humano não evoluiu tanto assim nos últimos milênios. A ideia de que hoje somos mais inteligentes do que antigamente é um grande equívoco, se isso fosse verdade qualquer pessoa hoje em dia, seja jogador de futebol ou cantor (cantor?) de funk seria mais inteligente do que Platão, Aristóteles, Sócrates, Tales de Mileto e muitos outros que viveram há mais de 2000 anos. Não se pode nem dizer que o ex-presidente Lula é mais inteligente do que algum senador da Roma antiga, excetuando-se o cavalo nomeado senador por Calígula. Bom, há quem diga que nem isso...
Desde a antiguidade clássica na Grécia (500 AC), na verdade nada mudou. Paramos no tempo. São 2500 anos de pura teimosia e a cada dia que passa o número de teimosos aumenta, hoje já são mais de 7 bilhões. E esse número tão elevado de animais racionais teima em que, afinal? Em não concordar com alguns e concordar com outros. Em acreditar que há alguém que sabe a resposta de todas as perguntas. Em insistir e achar que dizer "eu não sei" é um sinal de fraqueza. Obviamente nem todos são tão teimosos, alguns são menos.
Essa capacidade de abstração que nos difere tão visivelmente das outras espécies está sendo pouco usada, ou não está sendo usada tanto quanto poderia. Nossa capacidade de raciocinar nos permite duvidar de tudo, e eventualmente do que acreditamos ser verdade, mas praticamente ninguém exerce esse direito de duvidar do que sabe, ou pensa que sabe. Exemplificando: o cachorro daquela história que virou filme ia buscar o dono todos os dias na estação de trem, e quando seu dono morreu ele continuou esperando-o até morrer também, de velhice. O cachorro não é teimoso, ele apenas não tem capacidade de raciocinar e chegar à conclusão de que seu querido dono não mais está entre os outros seres viventes.
Nós humanos temos capacidade para raciocinar, mas continuamos esperando muitas coisas que não retornarão e também acreditando em muitas coisas de que já deveríamos ao menos estar duvidando.