Nas últimas eleições para
deputado federal, um palhaço foi eleito. Ele obteve um expressivo número de
votos, que segundo alguns milhares de eleitores foi manifestação de protesto.
Nesse e em outros cargos eletivos, foram eleitos também cantores de pagode,
cantores de samba, gente que não canta nada, alguns atletas e atores. Mas
manterei o foco no palhaço, por ser notória a atenção a ele destinada
ultimamente, assim como os elogios que tem recebido de pessoas cujo voto foi ou
não para ele.
O ilustre deputado não falta às
sessões plenárias, não está envolvido em escândalos de desvio de dinheiro
público e também não está sendo acusado de quebra de decoro parlamentar
(expressão de eufemismo que serve para não dizer furto, roubo, mentira etc). Ora,
por todos esses motivos ouvem-se gritos apaixonados e honestamente fiéis,
ovacionando o caráter excepcionalmente impecável do político em pauta. Ele
mesmo declarou que não pretende tentar se reeleger nas próximas eleições, pois
no congresso há muita burocracia e interesses alheios, assim fica difícil fazer
o que queria: chegar lá e votar projetos de lei para ajudar o povo brasileiro.
Após essa declaração, os gritos e
elogios aumentaram consideravelmente. Pessoas se emocionam e ficam indignadas
com o fato de o palhaço ter vontade de ajudar seu país, mas encontrar óbice na
politicagem que assola seu órgão.
Concordo que é positivo alguém
que quer sinceramente ajudar seu povo ter sido eleito, mas fora isso não há
nada de bom nesse episódio. O próprio
fato de alguém chegar à câmara dos deputados e reclamar que é difícil votar
projetos de lei importantes para o país já é em si uma ideia absurda. Ele não
sabia disso. Não sabia também que existem interesses alheios entre centenas de
políticos, partidos e lobistas inseridos no jogo político. O coitado não sabia
que numa democracia pluripartidária por excelência impera a necessidade de
apoios, alianças, toma lá dá cá e afins, fora incontáveis dispositivos
burocráticos que fazem com que a legislação seja muito difícil de ser
implantada, corrigida, suprimida ou simplesmente modificada.
Em suma, um palhaço vai receber
dos cofres públicos no mínimo 1 milhão e 300 mil reais em 4 anos para descobrir
que é difícil trabalhar no legislativo e que não tem capacidade de fazer nada
de bom pelo Brasil e a galera o aplaude, glorifica, defende e canta junto.