Francisco de Paula, enquanto viveu, foi autor de muitas declarações polêmicas, tanto no âmbito público como no privado. Os noticiários dedicaram alguns preciosos minutos a homenagear o grande artista no dia de sua morte e uma notória atriz inclusive comentou: "ele nos deixou uma grande obra e foi um exemplo de pai amoroso". Será mesmo?
Muitos adultos hoje se recordam de ter assistido a seus programas na infância, dado risadas na adolescência e finalmente de discordar e concordar com alguns de seus bordões na maturidade. O comediante, em sua obra, ora tendia ao politicamente correto, ora sugeria ao grande público que nem sempre isso se adequava à realidade, pois a realidade nas décadas em que viveu e trabalhou não permaneceram imutáveis.
Já no seio de sua vida particular, embora a mídia não tenha tido muito interesse em enfatizá-la, Chico em suas confidências pôde concretizar o que era tão potencial profissionalmente: ser paradoxalmente bom e ruim; inteligente e ignorante; apaixonado e desinteressado. O mesmo boçal indiferente à ecologia manifestou-se contra interesses escusos do dono da Globo; o mesmo pai que chamou um de seus filhos de medíocre agradeceu ao carinho dos outros.
Geralmente quando alguma celebridade morre, todos costumam enaltecer o falecido declarando, repetidas vezes, características nobres inatacáveis como: amor, ternura, ponderação. Eu me lembrarei dele como alguém que xingou a própria família, mostrou a todos que nosso país não é tão belo quanto pensam e nosso povo não é tão digno de respeito, prejudicou e ofendeu injustamente (e também justamente) algumas pessoas, mas teve a capacidade de pedir perdão e admitir os grandes erros que cometeu.
Ninguém é perfeito. Chico Anysio aprendeu e ensinou-nos rindo a levar a vida a sério.