domingo, 20 de maio de 2012

Sou ignorante

É um bordão já antigo: “quem não lê, não fala, não ouve e não vê”. Também se diz que não adianta apenas ler, mas é necessário saber separar literatura de qualidade do lixo de letrinhas. Depois de selecionada a “boa” leitura, é ainda essencial estabelecer filtros e técnicas para não cair em armadilhas intelectuais e acabar seduzido por argumentos equivocados – embora na maioria das vezes não falaciosos. Feito isso, o próximo passo é escrever; e para escrever é, outrossim, inevitável seguir regras e conceitos pré-estabelecidos. Como sempre, não estou sendo original, mas apenas repetindo algumas lições que aprendi quando inventei de querer não mais tirar notas baixas em redação. Em parte funcionou, não por mérito próprio, mas por ter tido bons professores. O que não funcionou e deixou-me frustrado foi o fato de eu estar perseguindo conhecimento na complexidade e nesse ínterim ter acreditado que estava no caminho certo. Segundo Sócrates (ou Platão, como queiram) eu estava no caminho certo, e talvez com muito esforço permaneça nele. Estou me referindo não mais ao conhecimento de mundo e às informações e dados, mas à ignorância; a onipresente, onipotente e beligerante ignorância. Ela me ignora, mas eu não a ignoro. Tampouco a adoro. Daí vem a frustração à qual me referi há pouco. Se não existe almoço grátis na natureza, o “não saber” é a moeda de troca responsável por toda a compra e venda de caráter cognitivo que poderei efetuar enquanto viver. Se aprendi algo é porque deixei de não sabê-lo, se não sei algo é porque estou na iminência de adquirir patrimônio intangível, e assim sopesar tal frustração com menos tristeza, e não com mais felicidade. Raul Seixas disse uma vez (ele também repetia algumas coisas dos antigos) que se fosse burro não sofreria tanto. Creio que essa seja a primeira reação reflexa quando se descobre que não existe almoço grátis. A segunda é dizer “não, obrigado” à tentação de aniquilar o sofrimento – que ora se apresenta como lobo em pele de carneiro, ora como carneiro em pele de lobo, depende apenas se você se acha inteligente ou se admite que é ignorante.