domingo, 9 de setembro de 2012

semba


      Interessante um documentário sobre o Brasil, feito pela BBC, chamado Brazil from samba to bossa, ou algo assim...
      Sempre vejo patriotas fervorosos dizendo cheios de orgulho que “o samba é a música verdadeiramente brasileira”. Nem é. Essa batucada toda foi copiada da África, e lá não o faziam numa roda de candomblé para curtir o domingão, mas sim para louvar suas divindades.
     Mas isso todo mundo já sabe. O que talvez pouca gente reflita sobre, é como o samba se transformou no que é hoje, principalmente em fevereiro, no carnaval. Num primeiro momento, o ritmo começou nas comunidades carentes, e as músicas falavam de malandragem. O malandro era o principal personagem de praticamente todas as canções, e ele não era apenas isso, ele era idolatrado e tido como herói por toda a comunidade. Era bonito dizer que um homem jovem, sem estudo, sem emprego e sem posses, rasgou a pele de alguma pessoa não jovem, com estudo, com emprego e com posses para tomar seu relógio e depois parou no bar para tomar uma cachaça – outro símbolo de nossa cultura.
      Getúlio Vargas não gostou muito dessa desgraça cultural (malando tudo bem, mas ser idolatrado não) e proibiu o tema. A partir daí só samba falando da história do Brasil seria permitido. Se você algum dia teve dúvida sobre o porquê das escolas de samba ser dirigidas por barões do jogo do bicho ou do tráfico de drogas e mandarem fazer as letras das músicas falando bem do governo, é porque o Vargas mandou.
     Mas depois a censura acabou e os malandros voltaram a figurar com êxito nas composições novamente. Depois veio também o rap e o funk, ambos falando bem dos criminosos e mal da polícia. O mangue beat apareceu um pouco depois, mas o mangue beat não fala bem de traficantes, por isso não virou moda nacional. O forró veio antes, mas Luiz Gonzaga falava sobre o sofrimento do sertanejo e também não virou herói nacional.
      Hoje, isso que chamam de “funk” carioca tem uma aceitação enorme entre as comunidades mais simples em todo o território brasileiro. Curioso é que nesse documentário da BBC, um cantor de funk (ou de rap, mas isso não faz diferença agora) se lamentava dizendo que o funk em seu atual momento no Brasil vive uma fase muito ruim, as letras das músicas apelam para o sexo apenas, e de uma forma extremamente depravada e vulgar.
      Parei por alguns segundos para refletir sobre esse solene pronunciamento. Se eu tivesse um filho (ou filha), seria melhor ele(a) crescer ouvindo “pega no meu pau vadia...” ou “se os home subir no morro nóis mete pipoco” ? Infelizmente essas são as únicas opções que algumas pessoas pensam existir, afinal esse povo vaiou Carmem Miranda e tantos outros logo no começo...

3 comentários:

  1. É uma mistura de tristeza e indignação. Ontem vi meu filho navegando no youtube e adivinha o que ele estava assistindo? Clip de funk é mole!!!Pedi para colocar um fone de ouvido pelo menos e fiquei refletindo um pouco sobre...afinal, ele não iria entender, pelo menos naquele momento, o excesso de furia.

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  2. Pra mim, a verdadeira "música brasileira" é o modão de viola. Acho que chorinho pode entrar aí também também; é uma evolução do samba (que eu saiba, não sou expert no assunto), mas evolução na música tem que existir sempre, né?

    E por falar nisso, funk carioca poderia ser considerado uma involução na música, se fosse possível chamar aquilo de música.

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