domingo, 18 de dezembro de 2011

A verdade não existe, estou mentindo.

Entre o paraíso e o inferno. Entre deus e o diabo. Entre o bem e o mal. Entre o amor e o ódio. Durante muito tempo houve completa ausência de questionamento sobre o caráter unilateral da veracidade de frases de efeito como essas. Não mais.
"Nenhum direito é absoluto", ouve-se dos juristas. "Ninguém é dono da verdade", ouve-se do bêbado no bar. Mais importante do que simplesmente refletir sobre o significado de algumas frases tidas como inequívocas é estabelecer uma relação entre elas.
Nesse último ano as revoltas árabes têm colocado em voga a sede de alguns estados por democracia. No Brasil, desde a queda do regime militar têm-se glorificado o estado democrático de direito. Conviver com o desconhecido, aceitar diferenças e respeitar a dignidade da pessoa humana são mandamentos constitucionais que imperam nos discursos demagógicos e não demagógicos desde 1988, e desde que o Brasil começou a pleitear uma cadeira na ONU essa glorificação se intensificou.
Eis aonde quero chegar afinal: não existe hoje sequer uma ideia, por mais óbvia que seja, que não encontre oposição. Alguns poderiam argumentar: "Impossível alguém preferir o mal ao bem e conseguir defender tal propósito"; os satanistas estão aí para provar que é possível sim. Outros poderiam questionar: "Entre amor e ódio, temos que trabalhar para erradicar completamente o ódio", e encontrariam opositores ferrenhos sem precisar dobrar a esquina. "Joguemos as mãos para o alto em desespero e desistamos de achar pontos de convergência então" diria alguém menos propenso a raciocinar. Mas existe a dialética, hoje em dia não esquecida, mas usada de formas tão tênues e sutis que acabam mascarando-a de sorte que as vezes não conseguimos vê-la em alguma ideia e ao tentar aplicá-la onde ela já existia, acabamos por anulá-la por completo.
Vejamos um exemplo: dizer que violência gera violência ou dizer que um erro não justifica o outro. Ambas as frases são dignas de respeito, e são defendidas de acordo com a visão de que argumentos positivos para o convívio em sociedade as enaltecem e ao mesmo tempo servem para repudiar os negativos. Diante disso, alguns têm disseminado o ódio ao ódio, mas não o amor ao amor. Ser politicamente correto é ser brega, ser politicamente incorreto é ser "do contra" e "modista", estar em dúvida e fazer questionamentos é pregar o niilismo.
Lembro-me do filme "Operação Orquídea", em que alguns dissidentes do exército de Hitler queriam assassiná-lo, e o protagonista pergunta: "sim, e depois fazer o que?". Creio que hoje acontece algo parecido, devido ao grande número de informações a que somos expostos, principalmente pelos recursos da internet, de que dispomos cada vez mais, independentemente da classe social.
Não precisamos ser totalmente contra ou a favor de tudo que nos é oferecido e apresentado, nem é necessário bipolarizar todas as ideologias, basta entender (como diz FHC) que quando duas ideias diferentes se encontram, antes de refutar qualquer uma das duas, é preciso abrir espaço para o diálogo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário